top of page
Foto do escritorJoão Pedro Accinelli

Crítica | Longlegs (2024)


 CRÍTICA SEM SPOILERS

É difícil encontrar palavras para descrever a fascinante sensação de se deparar com um filme que inala e exala tudo aquilo que um bom fã de horror psicológico e atmosférico procura encontrar. Filmes slow burn, lamentavelmente chamados de "filmes soníferos" pelos espectadores mais imediatistas, são obras que estabelecem sua tensão emocional em um ritmo que cresce gradualmente. Em Longlegs trilhamos um caminho construído com esmero e minúcias, que inicialmente parece plano, mas que revela uma inclinação sutil em direção ao sobrenatural, a qual se torna mais evidente com o passar do tempo. Vale dizer que, embora esse tipo de filme já possua um nicho específico de fãs, trata-se sempre de um projeto arriscado financeiramente, que, de certa forma, vai na contramão de tudo que os longas de terror comerciais propõem, os quais, espantosamente, ainda rendem tantos frutos em termos de bilheteria e sucesso com o público em geral. Apostar em uma narrativa lenta, que se desenrola aos poucos, ao invés de sustos baratos e criaturas carregadas de efeitos especiais, é um trabalho árduo. Pois se o roteiro e a direção não compensarem o espectador no próprio trajeto e em seu ato final, a chance do filme se perder em esquecimento e falhar em sua missão de encontrar seu público é grande. E acredite, agradar esse tipo de espectador não é exatamente uma tarefa fácil.


Dividida em três capítulos, a história se passa na década de 1990, onde uma investigadora do FBI chamada Lee Harker (Maika Monroe), que aparenta ter habilidades de percepção extrasensorial, é encarregada de investigar uma série de homicídios seguidos de suicídio em uma tranquila cidade do Oregon. Esses casos, onde pais tiram a vida de suas famílias antes de se suicidarem, deixam para trás cartas codificadas com símbolos satânicos, todas assinadas por um enigmático "Longlegs", cuja caligrafia não corresponde a nenhum membro das famílias envolvidas. Conforme Lee se aprofunda na investigação, ela encontra indícios inquietantes que a levam a um arriscado e obscuro trajeto ligado a rituais secretos. Antes de tudo, é importante conhecer um pouco sobre o homem por trás do filme. Não que o longa não se sustente como unidade fílmica sem a necessidade de um conhecimento prévio, longe disso. Mas para obter uma experiência ainda mais interessante, proveitosa e gratificante, é recomendado um pequeno e rápido mergulho em sua filmografia, afinal de contas o diretor é um dos poucos da atualidade que, pelo menos até o momento, se mantém fiel a uma estética visual rara e uma forma única criar medo presente em seus filmes, estes apoiados por um ritmo próprio que engrandece a imersão do espectador. Escrito e dirigido por Osgood Perkins, um dos mais promissores cineastas estadunidenses da última década, Longlegs é uma resultante da soma (e apuração) das temáticas, experiências e elementos narrativos presentes nos outros filmes do diretor. Desde que seu longa de estréia, o ótimo A Enviada do Mal (2015), nos mostrou sua identidade única e precisa com o uso de sombras e ambientes escuros, além de uma atmosfera inquietante, Oz (como também é conhecido) impressionou positivamente a crítica internacional e incitou a curiosidade dos fãs de horror com sua abordagem singular. No ano seguinte, o diretor se debruça de vez em uma história sobrenatural que se desenvolve de maneira extremamente lenta, mas que possui diversas cenas aflitivas que agarram nossa atenção, com o longa O Último Capítulo (2016), filmado inteiramente em uma única locação, uma casa deixada para Osgood por seu pai, Anthony Perkins, o íconico Norman Bates de Psicose (1960), conforme consta na abertura do filme. Após 4 anos, chega a vez do diretor se arriscar com a adaptação aterrorizante de um dos mais famosos contos de todos os tempos, Maria e João: O Conto das Bruxas (2020), que embora tenha tido uma recepção mista por parte da crítica devido a algumas escolhas de roteiro questionáveis, se consagrou visualmente com uma das mais atrativas e encantadoras fotografias de um filme de terror das últimas décadas. Finalmente, após outros longos 4 anos, Osgood Perkins reaproveita o que de mais vantajoso houve em suas obras anteriores, notando uma carência específica por filmes de investigação pautados em um tom sobrenatural e misterioso por trás. Deste cenário, nasce Longlegs. Pretensioso demais para alguns, o melhor terror do ano para outros, mas indiscutivelmente um dos longas mais aguardados de 2024.


Desde o marketing inicial do filme, que acertadamente fez questão de esconder o rosto do antagonista interpretado por Nicolas Cage e nos presenteou com pequenas pílulas de teasers tensos e com mensagens codificadas (causando ansiedade no público), fomos impactados com toda a aclamação da crítica e um aspecto minimalista de horror e suspense, semelhante aos filmes de terror de distribuidoras como a A24, como Hereditário (2018) ou A Bruxa (2015). Felizmente, é possível dizer que, por mais que o filme de Perkins esteja mais para um thriller investigativo com elementos de horror, a estratégia de divulgação não poderia ter sido melhor para conectar o longa com um público que aprecia e consome obras com essa linguagem cinematográfica. No filme, de cara nos impactamos com a introversão e quase apatia da personagem principal vivida brilhantemente por Maika Monroe (queridinha do terror que caiu nas graças dos fãs do gênero desde Corrente do Mal, de 2014), aqui em um de seus papéis mais densos. Conforme vamos acompanhando a história, vemos que a protagnista vive sozinha, possui dificuldades de interagir socialmente e não parece nutrir uma relação muito próxima com sua mãe. Porém, de forma geral, muito poucas informações sobre Lee Harker são de fato fornecidas ao espectador, propositalmente. O curioso é que mesmo assim, devido à sua personalidade peculiar, às circunstâncias da investigação e aos acontecimentos traumáticos recentes envolvendo a agente durante um procedimento de rotina, nos vemos completamente motivados a torcer por Harker e seus objetivos, afinal de contas se tem algo que a personagem faz muito bem é ser cautelosa e tomar decisões plausíveis e inteligentes.


Esse envolvimento instantâneo com a agente nos carrega desde o início, porém o que mais prende nosso interesse pela trama é justamente a direção de Perkins e, consequentemente, o tom atmosférico e tenso presente na obra. A trilha musical (composta pelo irmão do diretor, Elvis Perkins, sob o pseudônimo de Zilgi) e os enquadramentos, aliados aos elementos perturbadores da trama (visto as atrocidades e os crimes cometidos pelo misterioso serial killer) provocam um sentimento constante de desconforto no espectador, que se vê diante da investigação quase que como um segundo agente, auxiliando a protagonista, acompanhando as descobertas e tentando decifrar as pistas deixadas pelo assassino. O que o espectador sequer imagina, é que ao mesmo tempo, quem realmente está deixando significativas pistas é o diretor, estas praticamente impossíveis de captar durante uma única visita (leia-se assistida). E não, eu não estou falando sobre as meras aparições esporádicas de uma figura demoníaca na tela. Há algo de muito mais sombrio, requintado narrativamente e impactante sendo plantado desde os primeiros minutos de filme, mas que aqui deixo a cargo dos leitores mais curiosos buscarem em uma segunda ou até terceira sessão.

Enquanto Maika Monroe nos oferece uma ótima interpretação contida e internalizada de sua personagem, com pequenos tiques e treijeitos, Nicolas Cage trabalha justamente no oposto. Aqui, o ator encontra, em uma de suas mais memoráveis performances, a oportunidade de falar cantando e gritando, gesticular de maneira estranha, utilizar de mensagens subliminares e causar repulsa através de suas ações como Longlegs. Sobram aplausos também para os coadjuvantes do longa, que aqui entregam belas atuações, principalmente Alicia Witt como a mãe de Harker, e a sempre ótima Kiernan Shipka, que volta a colaborar com o diretor depois de quase uma década e só precisa de uma cena de poucos minutos para brilhar. Todos os aspectos técnicos funcionam bem juntos, sem ofuscar o trabalho do elenco e a capacidade criativa do diretor. Pelo contrário. A fotografia de Andrés Arochi Tinajero e a montagem da obra auxiliam diretamente na sensação de incômodo do espectador, que sente como se estivesse vendo algo que não deveria. Ainda que se passe nos anos 90, a temperatura de cor e todo o design de produção transmitem a todo tempo um clima levemente setentista, o que de acordo com o desenrolar do enredo começa a fazer sentido, conforme a importância dos acontecimentos de 1974 tomam forma. Os planos longos e estáticos torturam os espectadores mais ansiosos diante de cenas de apreensão. No terror, menos é mais. E é triste saber que nem todos, ou melhor, a grande maioria dos realizadores e do próprio público parece desconhecer esse fato.


Há uma cena, ainda na primeira metade de filme, em que Lee Harker se vê sozinha em sua casa, em ligação com sua mãe. Osgood Perkins utiliza uma de suas velhas e funcionas técnicas ao optar por enquadrar a personagem sentada diante de sua mesa com uma lente mais aberta, revelando ao fundo a cozinha de sua casa, escura. Neste momento, fica claro a intenção de fazer com que direcionemos nosso foco à cozinha, na expectativa de que algo ou alguém passe por trás da personagem, como muitos filmes de terror fariam. Pequeno spoiler: o diretor faz justamente o contrário. Nada acontece ali. Mas é exatamente o fato de brincar com as nossas expetatativas e nos deixar tensos, esperando pelo que pode acontecer, que mora uma das maiores qualidades da obra. Essa é uma das melhores definições de causar medo, terror. E inclusive, nessa mesma cena, exatamente por estarmos olhando onde a princípio não deveríamos, apenas a fim de anteciparmos um acontecimento ou uma aparição, o espectador pode acabar perdendo uma das únicas cenas em que a personagem principal sorri no filme. Isso parece besteira, não é? Porém não é sobre o sorriso. De certa forma, o diretor faz aqui, por meio de uma única cena, uma síntese sobre toda a trama de Longlegs: você, espectador, será manipulado para olhar para onde não deveria, perdendo os detalhes e as pistas deixadas para de fato ampliar o seu conhecimento sobre a história.

É no roteiro do filme que reside, na opinião de muitos, as grandes fragilidades da obra. Principalmente devido à uma cena expositiva no terceiro ato. Essa cena, embora explique boa parte dos acontecimentos a fim de dar ao menos um gostinho de compreensão para o público (o que de início pode frustrar aqueles que preferem um final com livres interpretações), está na realidade distante de mastigar tudo para o espectador. De casinhas brancas até aniversariantes de dias 14, o roteiro propositalmente opta por deixar algumas pontas supostamente soltas, na verdade mascaradas, a fim de nos incitar a descobrir mais sobre o longa. Existe aqui inúmeras camadas camufladas para desvendar, que inclusive obriga que o filme seja assistido mais de uma vez para que o processo "investigativo", parafraseando o gênero da obra, seja completo. Perkins faz questão de exercitar nosso interesse em esmiuçar cada cena, e cada plano, em busca de qualquer elemento que nos dê mais informações sobre a história, assim como fez sabiamente o próprio marketing do filme com os materiais de divulgação. O novo filme de Osgood Perkins tece comentários finos a respeito de como somos moldados pelo ambiente em que vivemos, pelo nosso passado. Há muito aqui sobre as diferentes formas existentes do mal, como este pode surgir de qualquer lugar, e está a espreita em qualquer momento do dia. O roteiro abre espaço para nos questionarmos sobre nossos conflitos éticos, sobre tomar escolhas difíceis e carregá-las consigo pelo resto da vida. Existe, durante o ato final, até uma leve relação com o famoso problema hipotético do "dilema do trem". Mentiras têm pernas curtas. Verdades? Pernas longas. E a principal (porém não a única) verdade sobre Longlegs é que este se trata de um daqueles filmes que chegam até nós de décadas em décadas. Por sua abordagem diferenciada em relação a como constrói seu horror, e principalmente por não fazer seu espectador de bobo. Um longa que sabe temperar o seu climax para que não seja devorado de maneira apressada, previsível e repentina, mas sim degustado cadenciadamente, com direito a boas doses de agonia. Como se não bastasse, o diretor ainda nos presenteia com alguns sustos extremamente eficientes. Com um orçamento limitado de menos de 10 milhões de dólares, Oz Perkins faz muito com pouco. E não me refiro somente ao orçamento. Todas as cenas transmitem um mix de sensações e sentimentos, além de muito mais informações do que inicialmente parece. Longlegs é, sob todas as perspectivas, um ousado, original e satânico exercício sobre camadas sobrepostas, pistas ocultas, e temas investigativos envoltos em uma tensão atmosférica de primeira linha. Certamente um longa que promete envelhecer bem com o tempo. Para quem chegou até aqui, deixamos um CUPOM SECRETO para adquirir nossos produtos do filme LONGLEGS em nossa Horror Store! Use o Cupom "LONG13" para adquirir 13% OFF e não perca essa oportunidade. Clique aqui e aproveite.



NOTA DO CRÍTICO: ★★★★★ Título Original: Longlegs Data de Lançamento: 29/08/2024 (Brasil) Direção: Osgood Perkins Distribuição: Diamond Films Elenco: Maika Monroe como Lee Harker

Nicolas Cage como Longlegs

Blair Underwood como Agent Carter

Alicia Witt como Ruth Harker Kiernan Shipka como Carrie Anne Camera

Michelle Choi-Lee como Agent Browning Ava Kelders como Ruby Carter

Carmel Amit como Anna Carter Dakota Daulby como Agent Fisk

תגובות


התגובות הושבתו לפוסט הזה.
bottom of page