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Crítica | O Exorcismo (2024)

Foto do escritor: João Pedro AccinelliJoão Pedro Accinelli

 CRÍTICA SEM SPOILERS

A obra de terror mais assustadora é a própria vida real. De certa forma, o novo filme do gênero estrelado por Russell Crowe tenta partir desse conceito base para desenvolver uma história de reaproximação entre pai e filha, que lutam contra seus traumas enquanto participam da gravação de um filme de terror. O que poderia vir a ser um drama psicológico com elementos de horror carregado de metáforas narrativas simplesmente não encontra seu rumo diante de um roteiro intrincado, entediante e pouquíssimo original.

Com um passado obscuro envolvendo o uso de drogas após a perda de sua esposa, o ator Anthony Miller (Russell Crowe) está determinado a se manter sóbrio, retomar sua carreira e reestabelecer sua conexão com sua filha Lee (Ryan Simpkins). Após a morte misteriosa de um ator em um estúdio, Tony é chamado para assumir o papel num filme de terror. Aos poucos, ele começa a demonstrar um comportamento anormal e preocupante, o que faz todos suspeitarem de uma recaída. Porém, algo muito mais sinistro parece estar por trás dessas mudanças. Conforme os eventos no set de filmagem tornam-se cada vez mais perturbadores, Lee começa a desconfiar que seu pai esteja sob a influência de alguma entidade sobrenatural. É inegável que Russel Crowe parece estar nutrindo uma significativa admiração por papéis de padres exorcistas recentemente, uma vez que no ano passado tivemos o lançamento do longa O Exorcista do Papa (2023), o que inclusive, inicialmente, causou dúvidas no público a respeito de O Exorcismo se tratar de uma possível sequência, o que não é o caso. A sequência do filme de 2023 está sim para ser produzida, mas o filme lançado este mês nos cinemas nacionais é uma história completamente diferente sem nenhuma relação com o papel anterior de Crowe. Antes tivesse alguma relação.


Embora O Exorcista do Papa (2023) tenha tido um desempenho morno entre os fãs do gênero, o papel anterior de Crowe como Gabriel Amorth ainda nos rendeu alguns bons momentos, diferentemente do novo filme dirigido por Joshua John Miller. Não há basicamente uma sequência de cenas em que podemos nos considerar positivamente surpresos ou sequer satisfeitos. Se em certo momento começamos a criar algum carinho pelos personagens e pela situação enfrentada por eles, em pouco tempo uma decisão de enredo equivocada faz questão de afastar o envolvimento do espectador com a história. O primeiro grande lançamento do semestre sobre exorcismo falha em suas duas tarefas principais. Sem conseguir conduzir o suspense que antecede as cenas de horror, e sem se aprofundar nos traumas pessoais de Tony e Lee, o roteiro da obra faz com que os próprios atores se mostrem limitados com o material que possuem em mãos. Nada parece funcionar de maneira orquestrada, tudo aqui parece deslocado. O mais impressionante é que, de alguma forma, os responsáveis por este desastroso roteiro foram o próprio diretor e seu parceiro M. A. Fortin, os mesmos roteiristas por trás do criativo e ousado Terror nos Bastidores (2015). É muito triste quando a insuficiência de um roteiro influencia negativamente todos os aspectos técnicos de um filme, que mesmo com esforços não conseguem reverter tal cenário lamentável. Joshua John Miller não nos apresenta segurança em sua direção, optando por enquadramentos nada favoráveis quando o assunto é a reação de outros personagens diante de determinada situação impactante. A montagem de O Exorcismo, por sua vez, se comprova confusa na maior parte do tempo, incapaz de unir decentemente os acontecimentos e as cenas de um problemático e indefinido texto. Desde poucos minutos de longa até os momentos finais, o medo dá lugar para o tédio frente a jump scares previsíveis e cenas preguiçosas que deveriam causar tensão, mas que apenas decepcionam pela ausência de verossimilhança dos eventos. Não é difícil se revoltar com as decisões dos personagens na grande maioria das cenas, visto que, embora inicialmente apresentado como algo relevante e necessário para o desenvolvimento da trama, o passado e as dores dos personagens (principalmente de Lee) parecem ser simplesmente deixados de lado em prol das conveniências do roteiro. A atuação de Ryan Simpkins não convence e nem mesmo a interpretação contida de Russell Crowe salva a falta de interesse do espectador. Mais parecendo um longo e penoso trailer, com imagens conectadas aleatoriamente e sem um própósito compensador, O Exorcismo testa a paciência de seu público com um andamento duvidoso que não favorece nem o horror e nem o raso drama de sua história. No fim das contas, após angustiantes 93 minutos que aparentam ser pelo menos 120, quem mais implora por um exorcismo é o próprio espectador.



NOTA DO CRÍTICO: ★☆☆☆☆ Título Original: The Exorcism Data de Lançamento: 01/08/2024 (Brasil) Direção: Joshua John Miller Distribuição: Imagem Filmes Elenco: Russell Crowe como Anthony Miller

Ryan Simpkins como Lee Miller

Sam Worthington como Joe

Chloe Bailey como Blake Holloway

Adam Goldberg como Peter

Adrian Pasdar como Tom David Hyde Pierce como Father Conor Tracey Bonner as Regina

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